terça-feira, 21 de agosto de 2012


O encontro das estrelas
Eu sai viajando o céu, estava distribuindo brilho, catando os pedaços e juntando as estrelas no centro do azul. Era noite de verão e todas as estrelas iam sair pra fora. Brilhar até alguém no mundo notar e sorrir pra imensidão colada no céu com fita durex. Foi quando olhei pra terra e avistei a menina.
Ela era um pouco miúda, tipo formiga, pelo menos daqui de cima. E estava chorando de dor, dor por dentro. A menina lia, outrora parava e chorava.
 Eu senti de cá do meu canto que aquela alma precisava de mim, precisava porque estava sem brilho. Luz ela tinha, e de sobra, tanto que a me fez observá-la, mas brilhar, ela não brilhava.
A menina era seca, miúda, tinha os cabelos escorridos e pretos, usava uma blusa surrada e tinha o olhar perdido. Ela lia um tal livro de capa vermelha e se desmanchava porque não aguentava mais afundar a cabeça na vida, sozinha. Com certeza se ela fosse uma estrela, estaria toda desfarelada, e eu ia de ter um trabalho enorme pra colar farelo por farelo. 
Meu brilho tremeu, a dor da menina foi passada pra mim, e eu nem sabia direito o porque. Era só mais uma menina no mundo, que chorava vez ou outra. Porém não, ouve algo a mais, o olhar da menina cruzou comigo e se fez em pedaços. Como se algo dela estivesse em mim. Como se eu pudesse segurá-la pelas pontas e gira-la no céu. Naquela noite ela não me viu como uma estrela no céu, ela me viu como algo cheio de vida, vontade própria. Quase pode me ouvir falar, mas não… era longe demais. Mas a pequenina notou vida em mim, ela notou vida em mim. E você sabe o que isso quer dizer?
Vou lhe contar uma história.
A pequena história da dona lua:
Uma vez a dona lua me contou que os humanos não tem o poder de nos notar por dentro. Eles costumam olhar superficialmente e achar que tudo que nós temos é só mais uma coisa no mundo. Porém, cada um de nós tem uma parte na terra, ou cada ser humano na terra, tem uma estrela no céu. Estamos ligados, de alguma forma inexplicável. E poderíamos levar uma vida inteira a procurar nossa parte e não achar, aliás quanto mais se procurava menos se encontrava. E dizia a dona lua que nós saberíamos simplesmente por também notar o tal humano de forma diferente, por não vê-lo como mais um distraído que não nos olhava de verdade. Esse humano seria então a nossa parte na terra. E ao morrer nos encontraria aqui, nos fazendo maiores, mais poderosas e brilhantes. Mas só brilharíamos se cuidássemos bem de nós mesmos. 
Esse seria o nosso destino. Anos se passaram, séculos e quase nenhuma estrela encontrava sua parte, a história  acabou virando mito pra muitas estrelas. Mas eu, sempre acreditei que era verdade, mas guardei em alguma parte minha e continuei fazendo o meu trabalho aqui no céu.
Brilhar, cuidar das irmãs estrelas, catar os farelos. 
Mas naquela noite, eu à notei e ela tinha luz, só faltava o brilho. Ela era eu, por isso o sucumbe, por isso o frenético arrepio, por isso a dor da menina veio parar em mim. Eu me encontrei, depois de muitos anos. E me encontrei despedaçada. Era eu cuidando de mim mesma, era eu chorando por mim mesma. Minhas lágrimas desceram junto com as da menina magrela, eu queria cuidar dela. Foi então que brilhei forte, muito forte. E ela notou. 
Ouvi-a dizer: - Estrela também sente.
 A minha menina era mesmo um milagre, uma estrela na terra. A dona lua tinha toda razão, e a menina também. Eu também sinto, eu também me desfarelo aqui de cima.
Eu sou sua. - gritei.
Os olhos da menina brilharam.

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