terça-feira, 21 de agosto de 2012

   A HISTÓRIA DO HOMEM QUE NÃO DESISTIU DE TENTAR
Eu amo frio, mas odeio noites frias. Ainda mais quando estou sozinho. Mas aquela noite seria especial, diferente. Mal sabia eu que conheceria a garota do sorriso mais lindo, dos olhos grandes, cor de mel e da boca carnuda que quase grita “me beija, me beija”.
Não estava afim de ir a lugar algum, mas os programas fúteis na televisão e a falta do que fazer fez-me querer sair um pouco, ir a um bar, a uma festa. A duas quadras da minha casa havia um bar conhecido, nós o chamávamos de porão. O lugar era ótimo, tinha ótimas bebidas, mas a escuridão e a poeira encrustada em todos os móveis fazia tudo parecer uma sujeira só. De sobretudo e botas longas vesti-me para sair. Deparei-me com um cachorro quando saia do meu prédio e, pra começar bem a noite, ele quase me mordeu. Corri um tanto, virei a esquina e ele me perdeu de vista. Caminhei alguns metros e cheguei ao bar.
Luz baixa, cheiro de mofo, mesas cheias, copos vazios. Esse era o ambiente. Risadas, pessoas reclamando da vida e algumas falando de como o Estado estava se tornando cada vez mais conservador. No fundo, com um casaco vermelho cor-de-sangue, fones de ouvido e olhar desconfiado estava a menina que citei no início desse texto. Ela me olhou, mas ignorou a minha presença. Concentrou-se novamente em beber o drink à sua frente e sem nem pensar logo pediu outro ao garçom.
Sentei-me ao bar. Pedi uma dose de tequila. O sal e o limão arderam minha garganta, mais do que o próprio gosto de álcool. Cambaleei, quase caí. Olhei de lado e vi a garota sorrir, ou melhor, rir de mim. Que sorriso lindo. Nunca acreditei em amor à primeira vista, mas, naquele momento, eu tive certeza de que era ela. Por não estar mais acostumado a beber, aquela dose de tequila já tinha me deixado, vamos dizer, alegre. A pequena bebedeira me deu coragem de ir falar com a senhorita dos olhos bonitos.
- Olá - quase grite, já que a música alta, ao vivo, impedia-me de falar mais baixo.
A princípio ela me ignorou, mas eu tentei mais uma vez.
- Não sei se você me escutou, mas eu disse olá! - sentei-me na cadeira a frente dela.
- Por favor, saia da minha mesa. - e não é que ela era difícil?
- Vi que te arranquei um sorriso quando quase caí.
- Você é um idiota.
- Como sabe? Você mal me conhece.
- Percebi pelas suas atitudes. Quem beberia uma dose de tequila em plena quarta-feira. Tequila foi feita para se beber nas sextas e sábados.
Já com a cabeça girando, não entendi muito bem o que ela disse. E, vamos combinar, era totalmente sem nexo.
- Qual seu nome?
- Nãoti.
- Nãoti?
- Não te interessa. 
Minha risada foi alta. Eu, literalmente, ri da cara dela.
- Meu Deus! - exclamei - Isso é o melhor que você sabe fazer? Se fosse comediante morreria de fome.
- Vou te pedir, mais uma vez, educadamente, por favor, saia da minha mesa. Agora! - imagina se ela não falasse educadamente.
- Não vou sair até que você diga seu nome.
- Não vou dizer.
- Já entendi seu tipo. Nova, deve ter no máximo 22 anos. Solitária, acha que sabe de tudo. Seu cabelo está solto, portanto você tem auto-confiança, o que é muito bom. Se fosse uma garota qualquer teria feito uma trança ou algum penteado, afim de chamar atenção. Seu casaco vermelho te dá um ar de matadora sabia? Agressiva. Seu olhar é de menina. Você tem muitos traumas e não sabe beber. Vejo duas garrafas de cerveja e dois copos, que - peguei o copo e cheirei -, com certeza, é vodca. Qualquer pessoa normal saberia que misturar uma bebida destilada com outra fermentada, no mínimo, fará com que você vomite no fim da noite. Não sei seu nome, mas sei seu sobrenome. A tatuagem do lado do seu pescoço, nela está estampado seu sobrenome, acertei? - ela assustou-se. Pois é, eu sei mais de você do que você imagina.
- Você não sabe de nada.
- Tem certeza?
- Ok. Aceita um café?
- Eu sabia que você precisava de ajuda. Vamos.
A noite foi longa e o resto da história vocês já devem imaginar. Eu descobri o nome dela, Juliet. Ajudei-a naquela noite e até hoje estou ao lado dela. Hoje fazemos 50 anos de casado e posso dizer com todas as letras que ELA É A MULHER DA MINHA VIDA. Já pensou se eu não tivesse insistido naquela noite? Com certeza não estaria com ela hoje. Nunca desista de tentar. A vida é feita de riscos, de tentativas. Tenha, pelo menos uma vez na vida, 30 segundos de coragem. Provavelmente, será esse meio minuto que mudará o resto dela.

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